A representação feminina no cinema é um tema que tem sido cada vez mais debatido, mas a simples presença de personagens femininas não garante que essas mulheres tenham profundidade e relevância narrativa. Para medir, de forma minimamente qualitativa, essa presença, o Teste de Bechdel pode ser utilizado como um dos indicadores de representatividade de gênero na indústria cinematográfica. Apesar de suas limitações, o teste se tornou uma ferramenta popular para analisar como as mulheres são retratadas nas telas.
O Teste de Bechdel surgiu em 1985 na tira de quadrinhos “Dykes to Watch Out For”, criada pela cartunista Alison Bechdel. O critério é simples e se baseia em três perguntas:
- O filme tem pelo menos duas mulheres com nome?
- Elas conversam entre si?
- Essa conversa é sobre algo que não seja um homem?
Se a resposta for “não” para qualquer uma dessas questões, ou todas, o filme falhou no teste. Embora pareça um mínimo aceitável, é impressionante como muitas obras aclamadas pelo público e pela crítica não conseguem atender a esses requisitos.

Clássicos que falharam no Teste de Bechdel

Mesmo alguns dos filmes mais premiados e populares da história do cinema falham no teste. Alguns exemplos são:
- “O Senhor dos Anéis” (2001-2003) – Apesar de contar com personagens femininas icônicas como Arwen, Éowyn e Galadriel, suas interações são escassas ou inexistentes.
- “O Poderoso Chefão” (1972) – O longa é amplamente centrado nos homens da família Corleone, enquanto as mulheres desempenham papéis secundários e passivos.
- “Star Wars: Uma Nova Esperança” (1977) – Mesmo com a forte presença de Princesa Leia, ela não possui diálogos significativos com outras personagens femininas.
Filmes que passam no Teste de Bechdel

Em contrapartida, diversos filmes demonstram que é possível construir narrativas com mulheres bem desenvolvidas e interações relevantes:
- “Pantera Negra” (2018) – O filme apresenta mulheres notáveis como Shuri, Nakia e Okoye, que dialogam sobre tecnologia, estratégias de batalha e o futuro de Wakanda.
- “Lady Bird” (2017) – Dirigido por Greta Gerwig, o longa se concentra na relação entre uma mãe e sua filha, abordando questões da adolescência e transição para a vida adulta.
- “Frozen” (2013) – O enredo gira em torno das irmãs Anna e Elsa, cuja relação é o cerne da história.
O Teste de Bechdel é um indicador suficiente?
Apesar de ser uma ferramenta útil, o Teste de Bechdel tem suas limitações. Um filme pode passar no teste e ainda assim reforçar estereótipos de gênero ou possuir personagens femininas mal desenvolvidas. Da mesma forma, um filme pode falhar no teste e, ainda assim, trazer uma representação feminina significativa.
O ideal é utilizar o Teste de Bechdel como um ponto de partida para uma discussão mais ampla sobre a representatividade feminina no cinema. A indústria cinematográfica precisa ir além do mínimo exigido pelo teste, promovendo a construção de personagens femininas complexas e diversas, refletindo melhor a sociedade em que vivemos.
A próxima vez que você assistir a um filme, tente aplicar o Teste de Bechdel e reflita sobre a representatividade feminina na obra. Seu filme favorito passou no teste? Se não, talvez seja hora de questionar as escolhas narrativas da indústria e exigir mudanças que tornem o cinema um espaço mais inclusivo e igualitário.