Elden Ring: Nightreign é algo semelhante a um spin-off do jogo Elden Ring; contém jogabilidade, itens, e bosses até parecidos, mas a forma como você joga é quase que completamente diferente. Se você é um fã de Dark Souls e acha que vai gostar de tudo que é chamado de “soulslike” por aí, é bom ficar atento; esse jogo não é o que você espera, pelo bem e pelo mal.
Resumo da gameplay e progressão
Nightreign busca fazer uma junção entre as mecânicas de um “soulslike” e do gênero “roguelite”. O controle do personagem é quase o mesmo do Elden Ring, mas agora com progressão bem simplificada, além do mapa ser menor e com locais aleatórios (em partes).
O jogo pode ser jogado com três pessoas, em dupla, ou sozinho; se você não conhecer ninguém que tenha o jogo, existe um sistema de matchmaking, permitindo que busque outros jogadores online. Em geral, o jogo é bem balanceado pra essas três tipos; jogar solo pode parecer meio intimidante no começo, mas fica bem mais fácil com um pouco de experiência.
Ao abrir o jogo, o jogador aparece na Mesa Redonda, que serve como uma base onde poderá fazer pequenas quests, trocar skins, e montar a build dos seus personagens com as relíquias. É daí que pode também iniciar uma expedição.
Bem no começo da expedição, o jogador e seus dois companheiros (se tiver) podem escolher entre oito Nightfarers, que são os personagens jogáveis. Cada um possui suas respectivas habilidades, divididas em uma “habilidade de personagem” e “arte suprema”; a primeira é rápida e pode ser usada com frequência, enquanto a segunda demora pra carregar e costuma ter efeitos mais devastadores. Além disso, cada personagem tem stats diferentes (os do Elden Ring: força, destreza, inteligência, etc.), então o tipo de equipamento que preferem usar varia bastante.
Em geral, os personagens são todos bem distintos um do outro, e recomendo dar uma chance pra todos eles, já que vai ser em maior parte uma experiência diferente jogar com cada um deles. Todos são de níveis semelhantes de poder, com exceção do Olho-de-Ferro, que está acima do resto nesse quesito.
Na expedição, jogadores devem explorar os diferentes castelos, ruínas, e outros pontos de interesse para juntar runas (usadas para aumentar o seu nível) e equipamento. O nível máximo de um personagem é 15, e aumentar esse valor para o mais perto disso possível é essencial, já que aumenta a vida, dano, e stamina exponencialmente.
Os equipamentos que você encontra são importantes em três aspectos: seu dano, sua habilidade passiva localizada na parte de baixo da ficha do item, e o seu moveset (os tipos de ataque que ela faz). Sempre busque encontrar as armas certas pro seu personagem e evoluir as principais para no mínimo +2, e lembre-se que algumas passivas funcionam mesmo quando o item está solto no seu inventário sem ser usado.
Uma expedição dura três dias no jogo, e a exploração deve ser feita rapidamente: no meio e no final de cada dia, um grande círculo (basicamente idêntico ao de um battle royale) começa a fechar ao redor do mapa, tornando-o cada vez menor. Jogadores são então incentivados a ir finalizando sua exploração, e devem correr em direção ao local onde o círculo não fechará. No final do dia, apenas um pequeno círculo resta, e os jogadores deverão enfrentar um boss aleatório.
Após dois dias nesse estilo, no terceiro dia, jogadores serão transportados para uma área completamente diferente das outras; com uma estética mágica e celestial. O que resta agora é enfrentar um dos Lordes da Noite, um boss final, que caso seja derrotado, lhe concede relíquias e avança a “história” e as quests do jogo. Esses bosses são bem diferentes dos demais, são bem mais grandiosos, além de bem mais difíceis. Existem oito deles, todos completamente únicos e com estratégias diferentes para derrotá-los.

Se você e seus companheiros falham uma expedição, são todos mandados embora do mundo com menos recompensas, e devem iniciar uma nova expedição desde o começo.
Sobre a dificuldade
Se você vai jogar um jogo da From Software, vai esperando que se depare com uma dificuldade acima do comum para um jogo, e este não é diferente. Os inimigos são agressivos, podem ter bastante HP, e muitos ataques afetam áreas enormes.
Na minha experiência, grande parte dos bosses são bem tranquilos de derrotar jogando inteiramente sozinho, mas entenda que o jogo vai te punir bem mais por cometer erros, já que você não tem dois companheiros ao seu lado a todo momento. Outra coisa que é importante destacar: certos personagem tem MUITO mais facilidade em lidar com essa dificuldade do que outros: o Olho-de-Ferro e o Selvagem, por exemplo, são capazes de ir do começo ao fim quase que de olhos fechados, enquanto a Duquesa e a Espectro vão exigir muito mais atenção e habilidade do jogador.
Assim como Elden Ring, o jogo pode variar entre extremamente difícil para muito fácil dependendo do nível e equipamento dos jogadores. Com os upgrades certos, é possível cometer inúmeros erros durante a luta com um Lorde da Noite e ainda derrotá-lo sem muitos problemas. Descubra como usar seu personagem, quais itens que ele prefere, explore os locais apropriados, aumente seu nível, e o jogo vai parecer bem mais fácil do o esperado.
Crítica
Se você comprou esse jogo esperando outro Elden Ring, ficará surpreendido; tanto de forma positiva e negativa. Assim como seus antecessor, Nightreign é um jogo bom e bem divertido, mas isso é quase que inteiramente fruto de ter a mesma jogabilidade base do Elden Ring. Todos os outros diferenciais do jogo possuem inúmeras falhas, principalmente quanto ao modelo roguelite, a rejogabilidade, e os inimigos.
Em um roguelite, há uma grande ênfase em obter upgrades em uma partida que podem ser levados para as próximas, desde pequenos aumentos de stats, até coisas mais complexas que podem mudar completamente experiências futuras. No caso de Nightreign, só o primeiro tipo existe: as relíquias, obtidas após cada expedição e com quests de personagens, são em grande maioria pouco interessantes e só dão ou aumentos de stats outros efeitos pequenos.
Isso quer dizer que não existe muita variedade pras builds de um Nighfarer com relação às relíquias. Existem relíquias que têm efeitos um pouco mais diferenciados, como as que mudam como certas habilidades dos Nightfarers funcionam, mas nenhuma delas é chocante ou altera o jogo de forma realmente perceptível. Considerando que essa é a única forma de melhorar seu personagem de uma expedição pra outra, fica sem graça bem rápido.
Além disso, builds que podem ser montadas durante as expedições em si, referente às passivas dos equipamentos coletados pelo jogador, também são bem sem graça. Quase todas elas são aumentos ou reduções percentuais para tipos de dano ou custos de habilidades; útil, mas imperceptíveis fora ver o número de dano em um inimigo ficar levemente maior. Atualmente, a única variedade realmente perceptiva na forma de jogar que alguém pode ter é com relação ao tipo de arma que escolhe usar, e se ela é “única” ou não (armas de raridade amarela que tem passivas especiais).
A rejogabilidade, consequentemente, sofre com essa falta de variedade. O mapa de uma expedição é só parcialmente aleatório, isso quer dizer que enquanto alguns pontos de interesse variam quanto a sua localização ou inimigos, todos são esteticamente idênticos e são enfrentados do mesmo jeito. Após mais de 30 horas de jogo, observei que ruínas ou castelos só possuem entre duas e três variações de inimigos, e o mesmo vale para os bosses espalhados pelo mundo.
Isso não seria um problema tão grande se grande maioria dos inimigos que enfrentamos não fossem quase que copiados e colados do Elden Ring. O jogo até fez algo interessante ao incluir bosses da franquia Dark Souls, mas são apenas seis em meio a dezenas de bosses do jogo anterior. Eu teria achado mais legal se a From Software tivesse só ido com tudo e adicionado mais uns vinte bosses dos Dark Souls ao invés de metade dos bosses sem graça do Elden Ring que também voltaram pra esse jogo (olhando pra vocês Verme de Magma e Espírito da Árvore Ulcerado).
Sobre os Lordes da Noite, cinco deles são bem interessantes e legais, mas os três que sobram são horrorosos. Não irei citar nomes devido aos spoilers, mas esses ou só saem voando por aí enquanto você é forçado a correr por quinze segundos até alcançá-los, ou são extremamente entediantes e ficam parados enquanto você aperta sem parar o botão de bater pra diminuir o HP montanhoso deles. Para bosses finais que você enfrenta só após quarenta minutos de exploração, é triste pensar que quase metade deles eu prefiro nunca mais ver de novo. Isso vale também para suas versões “Everdark”, que são mais difíceis e tem ataques/mecânicas novas: metade ok, metade chata.

Essa reutilização de bosses e de locais do Elden Ring não é algo inesperado, afinal isso foi deixado claro em trailers e através dos desenvolvedores, mas fiquei confuso sobre como o jogo ficou tão previsível após apenas poucas horas de gameplay. Após completar umas poucas expedições, um jogador atento sabe exatamente onde estão todos os locais e todas as variações de inimigos; a surpresa some rapidamente. Essa questão da reutilização fica pior considerando que o jogo custa R$200; é pagar um preço semelhante a um jogo novo, mas por um que muitos já jogaram antes.
Isso persiste mesmo com os eventos que ocorrem no mapa, chamados de “Terra em Movimento”. Ao lançar, o mapa pode ser ocupado, ou não, por uma das quatro grandes áreas especiais com bosses e objetivos específicos, que ao serem completados, dão recompensas exclusivas. Porém, tais bosses não são únicos desta região, podendo ser encontrados em outras áreas comuns, e as recompensas de dois desses eventos, o de podridão escarlate e das montanhas de neve, são bem específicas, podendo até ser inúteis dependendo de qual Lorde da Noite você enfrenta.
Conclusão e nota
Pode parecer pela crítica bem negativa que eu odiei o jogo, mas esse não é o caso; ele até que é bem divertido, e se você gosta de soulslikes, provavelmente vai tirar algo de bom do Nightreign. A maior falha desse jogo, de longe, é a falta de variedade após não muito tempo de gameplay, e acho que esse é o maior fator pelo qual eu tomaria mais cuidado em recomendar ele para jogadores de roguelites especificamente. Para um jogo desse gênero, rejogabilidade é o que eu mais valorizo.
Apesar disso, o jogo pode ser engajante, e minha maior esperança é que continuem lançando mais conteúdo de forma frequente, e que não se limitem apenas a uma ou duas DLCs que nem os outros jogos da From Software. A base é boa; se só investirem mais tempo para expandir a variedade de builds e se aprofundarem ainda mais no sistema de roguelite, tenho certeza que esse jogo pode permanecer relevante por ainda mais tempo que o seu antecessor.
Nota: 3 / 5