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Expedition 33 é a volta do videogame como arte

O jogo nos mostra como os videogames ainda podem nos transportar para mundos únicos, criados com paixão e sensibilidade

29/10/2025 às 13:05

Lembro-me como se fosse ontem. Estava assistindo a mais um evento da Summer Game Fest quando, de repente, em meio a uma enxurrada de anúncios, um jogo chamou minha atenção. Com visuais impressionantes, trilha sonora épica e um sistema de combate em turnos diferente de tudo que já tinha visto, esse era Clair Obscur.  Na hora, fiquei empolgado. Como jogador, estou sempre em busca de novas experiências que me tirem da mesmice e me lembrem por que os videogames são, na minha opinião, a forma suprema de arte.

Adicionei o jogo mentalmente à minha lista de “obrigatórios”, marquei a data de lançamento no calendário e o pré-instalei no meu Xbox Series X, via Game Pass. Mal sabia eu que, ao apertar o botão A para iniciar a gameplay, estaria marcando um ponto de virada na minha vida como gamer. Assim como a arte tradicional pode transformar quem a contempla, esse jogo me impactou profundamente. Ele me fez repensar o conceito de arte, a qualidade dos jogos, a vida… e até a existência. Clair Obscur é, sem dúvida, um dos melhores jogos da minha vida. Pelo que representa e pela experiência que oferece, merece ser eternizado como um marco na indústria e, com justiça, o título de GOTY (Game of the Year) de 2025.

Como diziam antigamente: senta que lá vem história. Vamos entender por que você também deveria experimentar essa obra-prima.

História

Para muitos, a história é o principal critério que define a excelência de um jogo. Embora eu não concorde totalmente com essa ideia, reconheço que uma boa narrativa é capaz de cativar qualquer jogador. E, meu amigo, se você curte histórias épicas e cheias de reviravoltas, Expedition 33 é um prato cheio.

O núcleo da narrativa desenvolvida pela Sandfall Interactive gira em torno do luto, como ele nos transforma, nos motiva ou nos aprisiona. O jogo também convida a refletir sobre a existência, a vida e o que realmente importa. Com uma proposta totalmente fora da caixinha, você assume o papel dos cidadãos de Lumière, uma Paris pós-apocalíptica, em missão para evitar a extinção de sua sociedade, ameaçada por uma entidade misteriosa: A Artífice.

Todos os anos, durante um evento chamado Gommage, ela pinta um número em uma rocha. Todos os que atingiram aquela idade, ou mais, são literalmente apagados da existência.

Durante toda a campanha, você sente o peso da responsabilidade. Está lutando por algo maior do que você mesmo. A tensão é constante, e a cada nova reviravolta, os mistérios se aprofundam, gerando mais perguntas do que respostas  e é aí que o jogo prende. Ele nunca deixa de surpreender, seja pelos acontecimentos marcantes, seja pela profundidade das relações entre os personagens.

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Aliás, de que adianta uma boa história se os personagens não têm carisma? Pois aqui, Clair Obscur entrega algo raríssimo na indústria: não existe personagem ruim. Todos são bem escritos, cativantes e complexos. Têm medos, traumas e motivações próprias. Isso enriquece ainda mais a ambientação apocalíptica  porque você se importa com cada um deles.

É uma história como poucas. Ela não cansa, não se repete, não subestima o jogador. E o mais impressionante: tudo isso foi feito por apenas 32 pessoas e um cachorro. A cada nova cena, senti o amor e a dedicação da equipe por aquele universo. A inspiração transborda. É, sem exagero, uma das melhores narrativas não só dos games, mas de todo o entretenimento. Jogue e se surpreenda, ela vai muito além dos jogos.

Gameplay

Adotando o estilo de RPG por turnos, Expedition 33 inicialmente provocou certa desconfiança. Mas sua abordagem inovadora, que injeta dinamismo ao gênero, rapidamente conquistou até os jogadores mais céticos. A inclusão de quick time events e mecânicas inspiradas nos soulslike deixou os combates mais envolventes e estratégicos. Enfrentar novos inimigos nunca foi monótono, cada luta era um novo aprendizado.

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Na exploração, o jogo apresenta um mapa-múndi em forma de maquete, no qual você escolhe áreas para explorar. Ao entrar em uma região maior, o jogo muda para a clássica câmera over the shoulder. Confesso que, no início, achei essa combinação estranha. Mas, conforme jogava, passei a apreciar, e até babar, nos detalhes dos cenários, que mais pareciam pinturas em movimento.

Outro ponto positivo são as atividades secundárias, como escaladas e exploração, que remetem aos Final Fantasy clássicos (como o VII e o VIII). Cada canto guarda segredos, chefes opcionais gigantescos e pedaços da lore que ampliam a compreensão do mundo. A gameplay, no geral, é extremamente satisfatória, acima da média até para estúdios gigantes, quem dirá para um indie em seu primeiro jogo.

Trilha Sonora

Ah, a trilha sonora… Aqui, preciso até me conter, porque poderia escrever um texto só sobre isso. Se eu pudesse usar apenas duas palavras para defini-la, seria: única e emocionante.

Cada faixa tocava fundo no coração. Senti emoções genuínas, que poucos jogos me proporcionaram ao longo dos anos. E olha que não sou de me emocionar fácil com música. Mas aqui, canções como “Lumière” ou “Alicia” me marcaram tanto que sei as letras de cor.

A trilha não apenas funciona de forma isolada, mas completa perfeitamente a história e amplifica o impacto emocional. São composições dignas de prêmios  e, sinceramente, não duvido que veremos essas músicas sendo tocadas em orquestras e eventos por décadas, assim como acontece com Final Fantasy hoje.

Já me estendi bastante, então deixo apenas um apelo: jogue Clair Obscur: Expedition 33. Seja você um jogador hardcore ou casual, esse jogo oferece uma aula de storytelling, game design, direção de arte e otimização.

É uma obra feita com pouco recurso, mas com muito amor e dedicação. É a prova de que o desenvolvimento de jogos vai além de cifras e cronogramas: é arte. E, por mais que executivos em ternos possam ditar regras, só artistas de verdade criam obras que mudam vidas e a indústria.

Na minha cabeça, imagino Expedition 33 subindo ao palco, recebido por Keanu Reeves ao som de “You Are Breathtaking”. Porque sim esse jogo vai tirar o fôlego de todos.

Nota: 5/5

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