Após anos de desconfiança em torno da Ubisoft, Assassin’s Creed Shadows surge como um sopro de renovação para a franquia.
Falar sobre Assassin’s Creed é falar de uma das maiores franquias da história dos videogames. Desde o lançamento do primeiro jogo, em 2007 — que revolucionou a indústria com suas mecânicas de escalada, complexidade e abordagem histórica única —, a série encantou os jogadores ao misturar eventos reais com a trama templária-assassina. Porém, com o passar do tempo, a franquia foi perdendo o foco, resultando em títulos apressados, cheios de bugs e com falta de inovação, o que manchou a imagem da Ubisoft e da série, mesmo após a introdução de elementos de RPG.
Assassin’s Creed Shadows, no entanto, parece sinalizar uma mudança significativa — não só para a franquia, mas também para a filosofia da Ubisoft.
História
Entrei em Assassin’s Creed Shadows com certo ceticismo. Após tantos jogos da Ubisoft que seguiram a mesma fórmula, minha expectativa era de que este fosse apenas mais um título no estilo samurai — algo parecido com Ghost of Tsushima, mas com o nome da franquia sendo usado apenas para atrair jogadores e, consequentemente, vender mais.
Logo nas primeiras horas de jogo, no entanto, percebi que algo estava diferente — e esse sentimento me acompanhou até o fim.
Shadows apresenta uma história sobre vingança e a conexão entre dois personagens distintos, cujos destinos se entrelaçam em busca de um propósito maior. Cada personagem é único e contribui de forma significativa para o desenvolvimento da narrativa, oferecendo aos fãs explicações mais profundas sobre a trama envolvendo os Assassinos e os Templários no Japão.
A narrativa é excelente, dividida entre dois protagonistas: Yasuke e Naoe. Esses personagens não são apenas diferentes em termos de origem e personalidade, mas também apresentam estilos de gameplay distintos. Ao contrário de Assassin’s Creed Valhalla, que apenas alterava o sexo do protagonista, Shadows oferece uma narrativa mais rica, explorando os mesmos conflitos sob diferentes perspectivas.

A relação entre Yasuke e Naoe é muito bem construída. O jogo explora essa conexão não apenas na missão principal, mas também em interações cotidianas entre os personagens — desde diálogos casuais enquanto bebem saquê até discussões pós-missão. Isso cria uma química palpável, que sustenta o jogador durante as cerca de 50 horas da campanha principal.
Outro ponto positivo é a tentativa da Ubisoft de inovar com novas perspectivas de câmera durante os diálogos, tornando as cutscenes e os momentos de tensão mais envolventes, além de aumentar a imersão nas conversas.
Gameplay
Como alguém que já jogou diversos títulos da Ubisoft, posso afirmar que Assassin’s Creed Shadows oferece uma das jogabilidades mais divertidas e menos repetitivas da série. A escolha de protagonistas tão diferentes impacta não apenas a narrativa, mas também o gameplay. Yasuke e Naoe oferecem estilos de jogo distintos, agradando tanto aos fãs antigos quanto aos novos.
Inicialmente, somos apresentados a Naoe, uma ninja ágil que executa ataques rápidos, mas com menos força. Seu estilo remete ao clássico dos Assassinos, priorizando a furtividade para eliminar inimigos nas sombras. Sua movimentação é impressionante, e as missões furtivas proporcionam uma das melhores experiências de gameplay, com uma fluidez que raramente se viu antes em jogos da Ubisoft.
Yasuke, por outro lado, é um verdadeiro tanque de guerra samurai, e sua jogabilidade marca um divisor de águas na franquia. Ele derrota inimigos com força bruta, oferecendo uma experiência completamente nova e rompendo com os moldes anteriores da série. Sua forma de lutar é uma lufada de ar fresco e representa uma inovação significativa para Assassin’s Creed.

Vale destacar que além das missões específicas de cada personagem, o jogo permite alternar entre Yasuke e Naoe em vários trechos das missões, adicionando uma camada extra de variedade à jogabilidade. Isso reduz a sensação de repetição e permite ao jogador experimentar diferentes estilos de combate ao longo das extensas horas de campanha.
Shadows também é repleto de missões secundárias que expandem ainda mais o universo do jogo. Minigames como os Santuários, Katas, Kujikiris e a construção de uma base proporcionam uma pausa agradável na narrativa principal, ao mesmo tempo em que oferecem uma sensação constante de progressão. O mundo aberto é gigantesco e há muito o que explorar.
E, para minha surpresa, o jogo se revelou um dos títulos mais bem polidos da Ubisoft. Durante mais de 45 horas de jogo, não encontrei um único bug — algo raro para a empresa. A Ubisoft fez um excelente trabalho ao entregar um jogo tecnicamente primoroso e sem falhas evidentes.
A trilha sonora de Shadows é eficiente, mas não se destaca tanto quanto o restante do jogo. Embora a música instrumental japonesa ajude a criar a atmosfera do Japão feudal, ela não apresenta grandes inovações. Comparada à trilha sonora de Ghost of Tsushima, por exemplo, não há grandes diferenças — o que é um ponto negativo, pois faltou mais criatividade nesse aspecto.
Os gráficos de Assassin’s Creed Shadows são simplesmente deslumbrantes. Mesmo jogando no modo de desempenho no Xbox Series X, as paisagens são de tirar o fôlego. Além disso, as expressões faciais dos personagens estão muito detalhadas — um feito inesperado por parte da Ubisoft, que agora deve continuar evoluindo nessa área nas próximas entregas da franquia.

Devo jogar?
Sabemos que o preço dos jogos no Brasil é um tema delicado, e, embora eu sempre diga que nenhum jogo vale R$ 350, Assassin’s Creed Shadows é divertido, inovador e muito diferente do que a Ubisoft vinha oferecendo nos últimos anos. É ideal tanto para fãs antigos da franquia quanto para iniciantes, pois oferece uma abundância de atividades e manterá você entretido por muitas horas.
Se o preço for um obstáculo, recomendo esperar uma promoção ou, como fiz, assinar o Ubisoft Premium Plus, que oferece acesso aos lançamentos no dia do lançamento (Day One). Assim, paguei R$ 60 pelo jogo e aproveitei quase 50 horas de diversão.
Assassin’s Creed Shadows é um dos melhores jogos da Ubisoft nos últimos tempos, com muitas novidades interessantes que respeitam a essência da franquia.
Nota: 4 de 5