Imagem: Reprodução | HBO Max

Segunda temporada de Pacificador equilibra acertos e tropeços

Apesar de episódios fortes e desenvolvimento emocional, o clímax romântico e previsível diminui o impacto do desfecho da série

22/10/2025 às 16:16

Quando Pacificador estreou em 2023, os fãs não apenas de super-heróis ou de HQs, mas de boas histórias acima de tudo, foram brindados com a extensão do arco do personagem apresentado em Esquadrão Suicida, de James Gunn, que é nada mais que uma paródia de conservadorismo e masculinidade. Onde o filme de 2021 apenas pontua e simboliza, uma minissérie de alto orçamento na HBO Max tratou de desenvolver essa mensagem.

Somado ao carisma natural de John Cena, Gunn fez um estudo de personagem esmerado o suficiente para que as risadas do público fossem diminuindo à medida que se entendia que Christopher Smith era apenas a paródia de um homem, abusado desde a infância para acreditar que homens de verdade são máquinas de abuso e violência.

Imagem: Reprodução | HBO Max

Nesta continuação, onde Gunn agora tem muito mais responsabilidades na DC do que apenas a de contador de histórias, o resultado é, no mínimo, misto, com acertos e erros.

Na trama, após perceber que sua vida não ganhou nada além de problemas depois de salvar o mundo e após a frustração de ver que seu amor pela Agente Harcourt não é correspondido, Christopher decide jogar tudo para o alto e construir uma vida nova em um universo paralelo aparentemente perfeito que descobriu por acaso no portal herdado de seu pai. Enquanto é caçado por Rick Flagg Sr. por ter matado seu filho, Chris descobre que o que parece perfeito não é.

De início, não há nada de original nessa premissa. Qualquer um que tenha assistido a desenhos animados entre os anos 1980 e 2010 já viu episódios em que o protagonista vai parar em uma cópia do seu mundo, onde detalhes importantes mudam para que ele valorize o que tem. Até mesmo Um Conto de Natal, de Dickens, há quase dois séculos, já contava uma história assim. Esta temporada de Pacificador segue a mesma lógica.

Imagem: Reprodução | HBO Max

Entretanto, isso não importa para Gunn, que, mesmo formulaico, sempre apostou na simplicidade, devotando sua energia ao que realmente importa na história: o coração. Desde antes da Marvel, Gunn focou em contar histórias sobre como os sentimentos das pessoas são o único real em meio às contradições violentas da vida, utilizando humor negro para ilustrá-las.

Isso explica seu fascínio por figuras altamente contraditórias como Christopher Smith. O Pacificador é uma paródia de machão que piora sua condição emocional sempre que tenta reprimir seus sentimentos. Na primeira temporada, Smith admite que possui sentimentos que vão além do patriotismo, da adrenalina e do tesão, como seu pai neonazista o condicionou a ter. Aqui, Gunn aponta a narrativa para a responsabilidade sobre esses sentimentos, mesmo os bons, pois ignorá-los os transforma em veneno.

A tentação do universo “perfeito” surge como uma solução fácil para problemas da vida adulta, como a dificuldade de conseguir um emprego e a incapacidade de manter um relacionamento amoroso.

Imagem: Reprodução | HBO Max

Os cinco primeiros episódios se destacam ao mostrar gradualmente a escalada de descobertas sobre a verdadeira natureza desse universo, permitindo focar no impacto emocional sobre os personagens. Gunn já provou que é capaz de sacrificar ação e espetáculo em favor do desenvolvimento emocional. Conforme fica previsível que aquele universo é problemático, cresce a expectativa pela compensação narrativa, ou seja, o momento de revelar o que tudo isso significa.

O penúltimo episódio cumpre essa função com excelência, consolidando-se como uma das melhores contribuições de Gunn. Ele demonstra que o rótulo de uma ideologia dominante nunca explica a complexidade das pessoas. O lamento provocado pela morte de um personagem chave, logo após se perceber sua bondade, reflete nosso julgamento prévio de que ele seria idêntico ao mundo ao redor. Quando essa lição é passada pelo próprio Pacificador, seu sofrimento ao admitir que errados somos nós se torna profundamente honesto.

No episódio final, embora Gunn tenha gerado expectativa com aparições-surpresa, a análise fria revela que, apesar de não ser ruim, ele cai na área cinza, sem atingir a força dos episódios anteriores. O tema principal se sustenta nas palavras e na trama da personagem da Adebayo, que é responsável por demonstrar que assumir a responsabilidade pelos próprios sentimentos é essencial, seja ao deixar um relacionamento por uma carreira ou ao mostrar a Pacificador que seguir os outros levou a mortes.

Imagem: Reprodução | HBO Max

O grande problema do episódio final está no romance com Agente Harcourt. A resolução dos conflitos se concentra demasiadamente nesse relacionamento, quando, na verdade, a desconstrução moral de Chris, explorando a terra paralela e a relação com seu pai e irmão, é muito mais significativa. Colocar o romance no clímax passa a impressão de que o episódio se forçou a ser bonito, mas perdeu ritmo. A narrativa de quatro ou cinco episódios é quase negada no final, sugerindo que a história se sairia melhor com duração menor, um tropeço comum nas séries atuais.

Ainda assim, a segunda temporada de Pacificador tem pontos positivos. Consolida-se como um capítulo divertido, embora não memorável, de uma saga maior que Gunn prepara para os próximos dez anos na DC. Por mais talentoso que seja ao conduzir momentos com coração e carisma, talvez seja o momento de Gunn tirar umas férias para refinar sua habilidade de contar histórias. O previsível começa a se tornar cansativo, mesmo quando se trata de narrar histórias simples.

Nota: 3,5/5

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