Para quem está familiarizado com super-heróis, um dos temas mais frequentes nos últimos anos é o conceito do multiverso. Nele, a realidade é composta por universos nos quais diferentes versões das mesmas pessoas existem em cada um, mas vivendo histórias diferentes. O multiverso atualmente é amplamente utilizado pelas franquias de cinema, especialmente o MCU nos últimos anos, mas nos quadrinhos esse ambicioso conceito já é explorado há décadas. No universo DC, que utilizou primeiro esse artifício e o refinou ao longo dos anos, seja em eventos cataclísmicos ou em histórias mais simples, há toda uma gama de regras estabelecidas que apenas enriqueceram essa ideia.

01 – O Multiverso já foi reiniciado
É importante frisar que o Multiverso DC é parte de um artifício narrativo para que a Editora das Lendas “arrume” as inevitáveis bagunças e contradições que surgem nas histórias lançadas ininterruptamente desde o final dos anos 30. De vez em quando, grandes sagas, chamadas de “crises”, são escritas para consertar isso. Basicamente, são histórias-evento gigantes onde o multiverso entra em colapso para depois ser renascido.
Por mais que soe estranho, esses eventos encerram décadas de histórias desses personagens para que a próxima possa começar, atraindo novos leitores, sem que eles precisem pegar uma HQ de dez anos atrás (sendo generoso) para entender por que os heróis estão em determinado status quo. Atualmente, o multiverso já foi alterado, destruído, reiniciado e passou por várias expansões e atualizações. Assim, as contradições mencionadas nas histórias que surgem ao longo do tempo não são apagadas para sempre, mas vão para outra terra. E o Universo DC volta a ficar coeso.
A terra principal do Universo DC é a Terra 0. O lar das versões normais de Superman, Batman, Mulher-Maravilha e de todos os outros. O multiverso ao redor dela é basicamente infinito, mas existe uma “vizinhança local” de cerca de 52 terras. Outras já foram identificadas para além desse limite.

02 – No multiverso, diversidade é só a porta de entrada
Esse é o conceito mais chamativo sobre a ideia de universos paralelos inicialmente. Pequenas mudanças em detalhes menores podem levar a efeitos borboleta gigantes, criando mundos estranhos e novos. Neles, o cânone dos personagens que conhecemos vai para um novo horizonte de direções completamente imprevisíveis e empolgantes. As possibilidades para histórias passam a ser ilimitadas.
Mundos onde o Superman é um herói completamente diferente em termos de ideais, ou sequer é um herói. Pessoas que morreram estão vivas. Países inteiros não existem. Eventos da história acontecem de forma diferente, ou nem chegaram a acontecer. Mesclas de eras criam misturas culturais, como cidades com tecnologia atual, mas tendo o ano como o início do século XX. Existe uma terra pós-apocalíptica, outra futurista, outra medieval, outra mágica, e com os heróis e vilões da DC no meio dessas reinvenções de mundos.

03 – Cada universo tem seu “tom”
É comum se encontrar histórias de tom leve ou pesado dependendo do que o autor está interessado em contar. Comédias geralmente têm um tom menos realista, e dramas de tribunal e suspenses investigativos têm um tom mais áspero e voltado à seriedade. A fábula é conhecida por tornar os animais falantes, e a ficção científica se apoia mais em críticas sociais. Cada história constrói sua atmosfera.
Isso passa a valer dentro do multiverso também. Existem terras que incorporam um tom específico como se fossem suas assinaturas. A Terra 27, por exemplo, tem física toda distorcida porque é um mundo onde só moram desenhos animados. Enquanto a Terra 4 é extremamente realista, onde os personagens são politicamente cínicos. E para assegurar isso, cada terra é desenhada com traços específicos. Uma paisagem na Terra 4 é mostrada de forma detalhada, e na Terra 27, existem paisagens que remetem a desenhos do Pernalonga.

04 – As Vibrações Dos Universos
Na estrutura básica do Multiverso, estabeleceu-se que ele não funciona como países demarcados num continente. Não é como se, dentro dele, um universo acabasse e viesse uma grande fronteira que o separa do próximo. Na verdade, todos os universos ocupam o mesmo espaço. Todos eles estão sobrepostos, onde os habitantes de um universo atravessam os do outro todos os dias sem ninguém se incomodar. Isso acontece porque cada pessoa carrega uma frequência de vibrações nas moléculas que é específica do universo onde mora. A somatória dessas vibrações pode ser ouvida como a “Enorme Canção”.
Ainda assim, existem reinos mágicos que existem nas “brechas” da realidade, como o Mundo das Maravilhas e os planetas de Apokolips e Nova Gênese.

05 – O Multiverso das Trevas
Recentemente, na saga Noites de Trevas: Metal, foi descoberto que existe um Multiverso onde tudo é programado para dar errado. Apelidado de Multiverso das Trevas, ele ocupa os mundos de numeração negativa, ou seja, as terras -1, -2, -3 em diante. Ninguém sabe o tamanho desse Multiverso, mas ele está atrelado ao normal e desempenha um papel importante na ordenação da criação.
Basicamente, é para lá que os poderes maiores que sustentam a realidade mandam uma história que deu errado. Esses poderes entendem que histórias são a matéria-prima da realidade e constroem essas histórias. Mas quando elas, por algum motivo, são rejeitadas, talvez por “virem com defeito”, são descartadas no Multiverso das Trevas. Esse defeito se manifesta nas histórias desses mundos como um pessimismo gigantesco, onde todos os eventos dão errado, e todos se transformam em monstros. O Batman que Ri, um popular vilão da DC nos últimos anos, nasceu lá, mais precisamente na Terra -22.

06 – Ele obedece a uma “terra líder”
O multiverso é suscetível a mudanças. Coisas que afetam, por exemplo, a linha do tempo de uma terra específica, afetam as outras. Essa terra é a Terra 0, que ocupa um cargo conhecido como Metaverso. Na saga Doomsday Clock, estabeleceu-se que, quando um ser ou um viajante do tempo passa a mudar a linha do tempo da Terra 0, as outras vão sofrer variações imprevisíveis também. E isso é importante para os quadrinhos atuais da DC, pois o maior sucesso da editora atualmente é o universo Absoluto, que retrata o que acontece quando esse cargo cósmico muda.
Após os eventos da saga Noites de Trevas: Death Metal, não é mais a Terra 0 que está no posto de ser o metaverso, e sim uma nova. Mas o grande vilão Darkseid descobriu isso antes dos heróis e conseguiu viajar para lá, estabelecendo sua influência niilista sobre ele. O ano de 2025 aparentemente está sendo todo para retratar as consequências dessa tomada de poder por todo o multiverso DC, incluindo a Terra 0. A batalha contra ele ainda está por vir.

07 – Pessoas que vivem em um universo são personagens de quadrinhos em outro
Este é um dos melhores conceitos do Multiverso DC: em uma ótima e metalinguística ideia, o Multiverso foi concebido para se conectar por meio das próprias histórias em quadrinhos, de modo que qualquer pessoa pode saber o que acontece em outro universo ao pegar um gibi e ler.
Isso dá aos “vizinhos” de um universo uma onisciência na percepção dos eventos, o que remete à ideia de seres de outras dimensões, como teorizado pela física teórica. Para coroar, existe o conceito do mundo mais poderoso do Multiverso, a Terra 33. Onde a DC deixa claro que é o mundo real, onde todas as terras são um capricho criativo do que acontece lá.