Demolidor: Renascido finalmente foi lançado. Depois de sete anos de protestos pelo cancelamento da série da Netflix, de 2015, o Disney+ trouxe de volta o melhor herói dos quadrinhos — na minha singela opinião. Agora sob o comando de Dario Scardapane e com produção de Kevin Feige, a Marvel tem a chance de usar o personagem de forma mais ativa nas tramas do MCU.
Começamos entendendo por que o Demolidor precisa “renascer”. Vemos a “morte” do herói em um prelúdio que altera completamente o cenário estabelecido na antiga série. Um ano depois, Matt Murdock (Charlie Cox) é apenas um advogado comum, Wilson Fisk (Vincent D’Onofrio) está solto e vence as eleições para prefeito de Nova York. Há um caos pairando sobre a cidade: policiais estão formando milícias criminosas, novos vigilantes surgem constantemente, e pessoas estão desaparecendo. Este é o cenário que implora pelo retorno do Demolidor.

É complicado resumir essa primeira temporada em uma única crítica. Tirando o elefante rosa da sala: a série é claramente uma colcha de retalhos — ainda que com remendos bem feitos. Há a sensação de que alguns episódios e arcos vieram de outra produção. A fotografia, a direção e até o roteiro mudam. Eventos da série da Netflix são mencionados de repente, e em outros momentos oportunos, são ignorados.
Existem muitas tretas por trás dessa da produção, mas o fato é: os episódios 1, 8 e 9 foram gravados posteriormente devido à recepção negativa dos capítulos já prontos. Os demais mesclam cenas das primeiras filmagens com acréscimos das regravações. A diferença entre esses dois momentos de gravação é significativa.
Os seis episódios iniciais seguem arcos mais episódicos e contidos, quase como uma “aventura da semana”. O episódio 3, que se passa integralmente no tribunal, é um destaque positivo. Já o episódio 5 merece um destaque negativo: mostra Matt lidando com um roubo a banco em uma sequência galhofa, mal dirigida e que pouco acrescenta à trama.

Com algumas exceções, esses episódios iniciais carregam uma pobreza de fotografia e roteiro digna de uma série adolescente da CW. Há uma sensação de artificialidade por trás das cenas, mesmo com o uso de filtros cinematográficos. Elementos marcantes da série da Netflix, como enquadramentos criativos, cenas envolventes e uso expressivo da paleta de cores, estão ausentes aqui.
Em contrapartida, os episódios refeitos demonstram mais personalidade, propósito e criatividade. Existe uma alma por trás deles, algo a ser mostrado. O primeiro episódio regravado (episódio 8) ainda é o mais fraco dos três. A luta entre Demolidor e Mercenário é confusa, com um plano-sequência poluído de CGI para mascarar erros e cortes. Ainda assim, há uma tentativa legítima de apresentar algo fora do convencional.

Os episódios finais são um espetáculo em comparação ao restante da série. Aqui, os diretores se libertam, explorando os poderes do Demolidor por meio do foco e do zoom — como se estivéssemos vendo o que ele ouve. O uso do zoom também é magistral ao destacar diferentes eventos dentro do mesmo quadro, transitando entre diálogos e pequenas ações.
Nesses dois episódios, até as cores contam uma história, com o vermelho e o azul representando a rivalidade eterna entre Demolidor e Mercenário. Apesar de pequenos deslizes, essa direção apresenta uma proposta com identidade e, acima de tudo, criatividade.
De longe, o último episódio é o melhor da série. Mais coisas acontecem nele do que em todo o restante. O ritmo narrativo aproxima-se de uma experiência cinematográfica, funcionando quase como um filme. Esse desfecho entrega tudo o que os fãs da série da Netflix esperavam: a sensação de continuidade.

Com isso, Demolidor: Renascido se encerra em um ponto alto, deixando todos ansiosos pela segunda temporada, prevista para março de 2026. É uma série remendada que, por sorte, deu certo. Mas fica claro que, sem esse “remendo”, teria sido um fracasso. Infelizmente, parte do que era a série antiga nunca mais voltará — nos resta torcer pelo que ainda está por vir.
 
											 
								 
								 
								