Succession
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Succession: A relação tóxica da família Roy, e como isso é alimentado pelo mercado

Como a prestigiada série da HBO é um espelho das relações no mundo capitalista

24/09/2025 às 15:31

Uma das séries mais prestigiadas dos últimos anos, Succession retrata a dinâmica familiar dos Roy, que não é uma família comum. Por mais que sejam bilionários, eles também estão, tanto em cultura quanto em personalidades, totalmente ligados ao capitalismo selvagem que construiu a fortuna deles. Cada um dos membros dessa família não só é afetado pela mentalidade desse sistema, como também não sabe como sair dele, ou se realmente querem sair.

“Você não é um matador”, diz o patriarca, Logan, ao seu segundo filho, Kendall, minutos antes de julgá-lo indigno de herdar o império midiático que construiu por mais de cinquenta anos. Logan o manda para a cadeia a fim de calar uma investigação do Congresso sobre dezenas de abusos e maus-tratos da empresa da família.

Imagem: Reprodução

Kendall, até aquele ponto da série, fez tudo pelo pai, exceto demonstrar sua implacabilidade nos negócios, o que o transformaria em uma figura completamente impiedosa, inescrupulosa e, consequentemente, excelente no trabalho. Só temos pistas ao longo da série de quem Logan foi no auge, já que a história começa com ele aos 80 anos, hesitando constantemente em executar sua sucessão. Com os três filhos passando toda a série tentando enganar e superar uns aos outros para conseguir um trono que jamais chegará.

A sucessão não acontecerá, pois Logan só conseguiu construir seu império acreditando que ele é essencial a ele. E essa obsessão incontestável pelo controle e pela manipulação dos outros para atender à sua vontade se assemelha a uma fome de poder constante, que é justamente o que o torna tão bom no que faz. Mesmo aos custos de seus filhos de 40 anos tremerem quando o pai entra na sala, pois há gatilhos evidentes de fraqueza, estimulados pelo pai para solidificar a própria liderança ao longo dos anos. Logan não vê distinção entre seus filhos e seus concorrentes.

O resultado é que Logan sempre ganha. Custos e responsabilidades mínimas para ele, portanto lucros cada vez maiores. Lógica de mercado. Pouco importa o que os outros pensam ou sentem. Essa política gerou sequelas ao longo dos anos nas personalidades dos filhos. E sobre eles:

Connor, o filho mais velho, é constantemente imerso em fantasias e projetos de poder completamente além da realidade que vive e serve como alívio cômico ao longo da série pela própria insignificância. Ele procura seguir um caminho diferente do pai, fora das disputas de controle da empresa, e por causa disso, nem identidade consegue ter. Uma consequência macabra de quem se afasta do polo de importância que Logan criou para si.

Imagem: Reprodução

Kendall, o segundo filho, assume o protagonismo da série por arrogantemente herdar essa linha de raciocínio e achar que é o primogênito de seu pai, logo, a pessoa mais próxima dele e herdeiro da empresa. Entretanto, automaticamente torna-se a figura mais trágica da série, por lutar contra alguém que ama, mas não o ama de volta, constantemente perdendo, se afogando em vícios para compensar isso.

Assim, ele volta a ser agredido pelo pai para rebelar-se contra ele mais uma vez e se sentir vivo. Logan coloca conscientemente o filho nesse ciclo eterno, se aproveitando da fraqueza dele para controlá-lo melhor.

Imagem: Reprodução

Shioban, a única filha de Logan, é sempre lembrada pelo machismo latente do pai e do quanto ela é menor que ele, o que lhe dá uma força baseada na raiva que Kendall não tem. Sua relação extremamente tóxica com seu marido, Tom, onde os dois competem em quem tem mais controle sobre quem, evidencia como ela vê os homens com gigantesco ressentimento e, ao mesmo tempo, como uma fonte de determinação para conseguir o que quer.

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Por fim, o caçula, Roman. Irreverente na quantidade de obscenidades que fala e completamente incapaz de pronunciar uma frase sem sarcasmo, Roman tem uma inteligência descomunal, mas é mal resolvido com sua falta de inibições, e isso o limita. A quantidade de repressão emocional que ele põe sobre si o torna fácil de ser manipulado.

A dinâmica entre o pai e esses filhos não só transformou Succession numa das melhores séries dos últimos anos, como também evidencia que o luxo e a fortuna constantes, quase como um personagem silencioso, tornaram todos os Roy escravos de uma lógica empresarial. O sofrimento silencioso de cada um é perceptível. Só um não sofre: o pai.

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