Brooke Shields e Susan Sarandon em Pretty Baby - Menina Bonita

A Hipersexualização de Estrelas Mirins na TV e no Cinema

Como a indústria do entretenimento explora e hipersexualiza crianças e adolescentes, gerando impactos psicológicos e sociais graves

22/09/2025 às 0:18

A indústria do entretenimento tem um histórico preocupante de hipersexualização de crianças e adolescentes, especialmente meninas. Seja na TV, no cinema ou na música, a pressão para que jovens artistas adotem uma imagem adulta e sensual antes do tempo tem gerado debates sobre os impactos psicológicos e sociais desse fenômeno. O problema está enraizado em um sistema que monetiza a imagem infantil ao mesmo tempo que a transforma em objeto de desejo, muitas vezes disfarçado sob a justificativa de “empoderamento” ou “maturidade artística”.

Historicamente, esse processo pode ser observado em diversas fases do entretenimento. Nos anos 1990 e 2000, estrelas como Britney Spears e Christina Aguilera foram moldadas por gravadoras e produtores para assumirem uma imagem sensual ainda na adolescência. O caso de Britney é um exemplo: aos 16 anos, a artista lançou o videoclipe de …Baby One More Time, vestindo um uniforme escolar modificado de maneira a sugerir um apelo sexual. A estratégia, claramente elaborada por adultos do meio, a transformou em um ícone pop, mas também a expôs à erotização precoce e ao assédio da mídia e do público.

No cinema, casos similares ocorreram com atrizes como Jodie Foster e Brooke Shields. Em Taxi Driver (1976), Foster interpretou uma prostituta infantil, o que gerou debates sobre os limites da representação artística e a exposição de crianças a conteúdos inadequados. Brooke Shields, por sua vez, protagonizou Menina Bonita (1978) e A Lagoa Azul (1980), onde sua imagem foi explorada de maneira a ultrapassar os limites do que deveria ser aceitável para uma atriz infantil.

Jodie Foster em Taxi Driver. Foto: Divulgação

Atualmente, a problemática persiste, ainda que com roupagens diferentes. Séries e filmes que abordam a transição da adolescência para a vida adulta muitas vezes reforçam estereótipos de meninas sexualmente disponíveis, enquanto atores mirins masculinos raramente são tratados da mesma maneira. Produções como Euphoria (HBO) têm sido alvo de críticas por explicitar o amadurecimento sexual de personagens adolescentes em contextos que podem ser interpretados como fetichização.

Em 2022, a organização Drug Abuse Resistance Education (D.A.R.E.) – Educação para a Resistência às Drogas e Álcool, em tradução livre – criticou a série Euphoria (2019), da HBO, afirmando que o programa glamouriza o uso de drogas, sexo e violência entre jovens nos Estados Unidos.

Zendaya como Rue em Euphoria. Foto: divulgação/HBO

Os Impactos da Hipersexualização em Estrelas Mirins

O impacto desse fenômeno na vida das estrelas mirins é devastador. Muitas enfrentam problemas psicológicos graves, como ansiedade, depressão e transtornos alimentares. A pressão para manter uma imagem “sexy”, combinada com a objetificação midiática e a falta de autonomia sobre suas próprias carreiras, resulta em trajetórias marcadas por turbulências emocionais.

Para combater essa prática, algumas iniciativas vêm surgindo para proteger jovens artistas. Sindicatos e organizações de direitos infantis têm pressionado por regulamentações mais rígidas, exigindo que produções evitem a exposição indevida de atores mirins. Além disso, ex-estrelas infantis têm se pronunciado contra o sistema que as explorou, trazendo conscientização para pais e público sobre a necessidade de um ambiente mais seguro e respeitoso para crianças na indústria.

Políticas Públicas e a Proteção da Infância na Indústria do Entretenimento

Para evitar que crianças e adolescentes sejam expostos a esse tipo de exploração, algumas iniciativas já foram adotadas em diferentes países. Nos Estados Unidos, o Coogan Act – lei criada após a exploração financeira de atores infantis – exige que parte dos ganhos de artistas mirins seja protegida para sua vida adulta. No entanto, ainda são necessárias leis mais rigorosas para evitar a exposição indevida e o uso da imagem infantil de maneira prejudicial.

Na França, a polêmica produção Lindinhas (2020) gerou um debate sobre os limites da representação artística. Apesar de ter como proposta denunciar a sexualização infantil, acabou reforçando estereótipos prejudiciais, levando a discussões sobre a regulamentação da representação de menores na mídia.

No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) já prevê proteção contra a exposição vexatória de crianças e adolescentes, mas sua aplicação no setor cultural ainda é frágil. O fortalecimento da Classificação Indicativa do Ministério da Justiça é uma medida essencial para garantir que conteúdos inadequados não sejam promovidos para o público infantil.

Cena do filme “Lindinhas”, da Netflix. Foto: divulgação

Além da legislação, é fundamental investir em políticas educacionais e campanhas de conscientização que ensinem produtores de conteúdo, famílias e o público em geral sobre os riscos da hipersexualização infantil. Programas de mídia-educação nas escolas poderiam preparar crianças e adolescentes para compreender e questionar a forma como a mídia representa a infância.

Produções Sobre o Tema:

  • O Efeito Lolita: Como a Mídia Forja a Sexualidade Juvenil de Mercado – Livro da professora de jornalismo e comunicação de massa na Universidade de Iowa, Meenakshi Gigi Durham. A autora identifica os mitos criados pela mídia no tratamento da sexualidade, com efeitos nocivos para o desenvolvimento das meninas e a liberdade das mulheres.
  • “Nasci Ontem e Já Sou Sexy” – Vídeo do Pop Culture Detective disponível no YouTube. Analisa a romantização da pedofilia em produções hollywoodianas, explorando um arquétipo recorrente de mulheres ingênuas e sexualizadas.
  • Modus Operandi #231 – Nickelodeon: Abusos na TV” – Episódio do podcast de true crime feito por Carol Moreira e Mabê Bonafé. Aborda os abusos psicológicos e sexuais cometidos nos bastidores da Nickelodeon.

A discussão sobre a hipersexualização de estrelas mirins é essencial para reformular a forma como a cultura pop enxerga e trata crianças e adolescentes. Cabe à sociedade, à mídia e à própria indústria garantir que a infância e a adolescência sejam preservadas, sem transformação precoce em mercadoria ou objeto de desejo. Para que isso aconteça, é fundamental questionar, denunciar e exigir mudanças estruturais que coloquem o bem-estar dessas crianças acima do lucro e da audiência.

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