Como já diz o ditado, um tanto quanto batido e repetido pelos nossos avós: “De boas intenções, o inferno está cheio.” Essa máxima se aplica bem ao anime Lazarus, produzido pelo estúdio MAPPA e dirigido por Shinichiro Watanabe (o mesmo de Cowboy Bebop). Entre cenas de ação frenéticas e um drama de personagens pouco explorado, a obra tropeça em vários pontos.
A história se passa em 2052, quando o gênio e filantropo Dr. Skinner descobre uma droga milagrosa chamada Hapna. Três anos depois, no entanto, ele anuncia que todos os que a tomaram irão morrer. Diante disso, o governo cria um grupo conhecido como Lazarus, encarregado de encontrar Skinner e desenvolver uma vacina.
A partir dessa premissa, forma-se uma união de heróis improváveis, cada um com suas dores e delitos graves, o suficiente para que o governo os recrutasse devido aos seus talentos extraordinários em diferentes áreas. A equipe é composta por Eleina, uma hacker; Cristina, uma ex-agente secreta; Doug, um estrategista; Leland, um adolescente; e Axel, um ladrão escapista (que, por sinal, é brasileiro). Há ainda Hersch, uma burocrata do governo responsável por reunir o grupo. Juntos, eles integram a equipe Lazarus, que dá nome ao anime.

A boa idéia que ficou pelo caminho
Por mais que a premissa de Lazarus seja a de apresentar um thriller de ação, repleto de lutas frenéticas e do mistério em torno do motivo pelo qual o Dr. Skinner fez o que fez, a trama acaba sofrendo com a própria ideia. A narrativa é acelerada demais, o que impede a exploração adequada dos dramas e das nuances dos personagens. Pouco se sabe sobre cada um deles, especialmente sobre Axel, que, em teoria, deveria ser o protagonista. O público tem apenas vislumbres de um passado que deveria ser trágico, mas que acaba apenas arranhando a superfície de um bom desenvolvimento de personagem.
O mesmo pode ser dito de Leland, Cristina, Doug e Eleina. A ideia por trás de cada drama pessoal teria um potencial incrível se fosse bem aproveitada, mas o ritmo frenético, especialmente no segundo ato, atropela o tempo necessário para que cada um alcance sua catarse individual. Com exceção de Cristina, cujo drama envolve toda a equipe e apresenta um desenvolvimento relativamente satisfatório (embora peque, mais uma vez, por não explorar o dilema da personagem sob outra ótica), os demais têm suas dores pouco abordadas e mal desenvolvidas. A trama principal acaba “engolindo”, de forma apressada, as questões que poderiam ser melhor aproveitadas.

O anime, porém, se destaca nos quesitos animação e trilha sonora. As coreografias de luta, idealizadas por Chad Stahelski, diretor responsável pelas cenas de ação da trilogia John Wick, são excelentes e demonstram domínio na condução de cada sequência de combate. A animação, por sua vez, cumpre muito bem o papel de acompanhar o frenesi visual da narrativa. A trilha sonora também é um show à parte. Embora as faixas de ação não se arrisquem tanto, a escolha do jazz na abertura e de músicas mais melódicas e lentas, como Dark Will Fall, tema de encerramento, adiciona profundidade às cenas e reforça a atmosfera de cada momento.
Outro aspecto que pesa negativamente é, sem dúvida, a dublagem brasileira. A discrepância de qualidade é enorme: quem contratou a equipe cometeu erros grotescos ao escolher atores que não transmitem emoção nas falas, tampouco um pingo de carisma, resultando em interpretações quase robóticas e sem vida. Portanto, a recomendação é assistir à dublagem original japonesa com legendas, que certamente preserva a intensidade e a expressividade dos personagens.
Embora apresente ótima animação, direção de arte e uma ideia com enorme potencial, infelizmente Lazarus não sustenta com firmeza sua premissa de grupo improvável de heróis salvando o mundo. Fica pelo caminho apenas o rastro do que poderia ter sido um anime memorável, à altura de Cowboy Bebop, um dos trabalhos mais icônicos de Watanabe, tornando-se, assim, uma obra que, como muitas outras, acabou caindo no limbo, mesmo com boas intenções.
